Análise : a oferta laboral e salarial do IEFP no concelho da Figueira da Foz

O IEFP anunciou esta semana que  o número de ofertas de emprego registadas nos centros públicos de emprego que estão por satisfazer atingiu no final de outubro um número quase record desde 1977, só superado em meados de 2017, no “rescaldo” da austeridade troikiana. De acordo com a análise do jornal Público, «Desde junho que os postos de trabalho que ninguém quer ou para os quais não há perfis adequados anda na casa dos 24 mil. Em outubro, o aumento nos empregos vagos (oferta por satisfazer) foi superior a 54%». 


Basicamente, os desempregados não estão a acorrer em massa aos empregos anunciados pelo IEFP, que luta para aumentar o «ritmo de colocação». Sendo «colocar» a palavra de ordem, impõe-se, como tal, a óbvia pergunta: Porquê? Porque é que tantas vagas ficam por preencher? A resposta não é simples, mas fomos tentar perceber.

Assim, percorremos todas as ofertas de trabalho para o concelho da Figueira da Foz divulgadas na plataforma do IEFP e isolámos numa folha de excel dois fatores: função e salário (neste caso bruto, ou remuneração base ilíquida). É um exercício que não dá respostas absolutas, mas resulta num retrato interessante de uma certa realidade económica local, que não pode ser ignorada, sobretudo quando se ouve falar em salários médios da ordem dos 1200 ou 1300 euros. A julgar por estes números que compilámos, se refletem de alguma forma a realidade do mercado de trabalho local, a grande maioria das famílias viverá com muito menos que isso.

Do excel ressaltam duas coisas acerca das oportunidades de emprego que o Estado oferece no nosso concelho:

1. O nível baixíssimo da oferta salarial no concelho: a média é de cerca de 750€.

2. O nível baixíssimo em termos de oferta de trabalho em si, não há praticamente qualquer procura por profissionais qualificados de áreas tecnológicas, criativas, digitais, científicas ou especializadas, sendo que a esmagadora maioria destas ofertas nem o 12º requer. Obviamente que este dado pode ser, em grande parte, explicado pelo facto de os empregadores do concelho poderem estar a recorrer preferencialmente a outros circuitos de recrutamento qualificado, como o LinkedIn ou o “scouting” direto de talento. É legítimo, mas leva a questionar, por exemplo, acerca da eficácia e utilidade da plataforma do Estado, que afunila a oferta para trabalho indiferenciado e quantas vezes precário, sem perspetiva de carreira e de baixíssimo nível salarial.
Se estes empregos qualificados existem e se a grande meta do IEFP é de facto aumentar o “ritmo de colocação” – e para que esse ritmo não seja indiscriminado e dê mais atenção ao perfil dos candidatos – talvez fosse boa ideia uma melhor colaboração com as empresas, no sentido de enriquecer a oferta deste importante serviço público.

De uma forma ou de outra, o que se sabe é que em cerca de 80 vagas em vigor na plataforma do IEFP à data de hoje, 23 de novembro de 2021, só duas chegam ao patamar dos mil euros. E uma delas é para trabalhar sobretudo no estrangeiro.

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